Deus Todo Poderoso, que nos criou à Vossa imagem e nos indicou o caminho do bem, do verdadeiro e do belo, especialmente na pessoa divina de Vosso Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, permiti-nos que, pela intercessão de Santo Isidoro, bispo e doutor, durante nossas navegações pela Internet, dirijamos nossas mãos e nossos olhos apenas àquelas coisas que Vos sejam aprazíveis e que tratemos com caridade e paciência todas aquelas almas que encontrarmos pelo caminho. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

segunda-feira, 31 de julho de 2023

"[...] tu sabes quanto este povo é inclinado para o mal"


17ª Semana do Tempo Comum | Segunda-feira 
Primeira Leitura (Êx 32,15-24.30-34) 
Responsório Sl 105(106),19-20.21-22.23 (R. 1a) 
Evangelho (Mt 13,31-35) 


Ensina Mêncio - sábio chinês - que você só está apto a aconselhar alguém se o despreza[1]. Se isto vale para reis a imperadores, tanto mais para este gigante estúpido e informe a que chamam povo. Vemos, pois, no livro do Êxodo, o que acontece quando o líder é fraco e se deixa levar pelas fantasias da comunidade ao invés de ater-se aos desígnios de Deus. Aarão deu ouvidos ao clamor popular e construiu um bezerro de ouro para eles, e assim aos pés do Horeb entre danças e cantos se tinha estabelecido um culto idólatra, uma abominação criada por aqueles homens estultos. Felizmente havia Moisés que ao retornar do monte com Josué pois ordem na casa ao fio da espada. Que Deus nos livre dos líderes fracos que deixam-se conduzir pelo povo ao invés de conduzi-lo. Que o Senhor nos dê homens como Moisés, que sejam consumidos pelo zelo de sua casa. 


[1] Disse Mêncio: ―Aqueles que aconselham os grandes devem desprezá-los e não se deixarem deslumbrar por sua pompa e exibição. Salões que tem uma altura desmedida, com vigas que ressaltam, se se realizassem meus desejos, eu não teria salões assim. Alimentos servidos à minha frente em salas descomunais e servidores e concubinas às centenas, se meus desejos se realizassem, eu não teria essas coisas. Prazer e vinho e excursões venatórias, com milhares de carruagens que me seguissem se meus desejos se realizassem, eu não os teria. Nada teria eu a fazer com aquilo que os outros apreciam. O que eu aprecio é a lei dos antigos. Por que hei de temê-las?

segunda-feira, 24 de julho de 2023

"O Senhor endureceu o coração do Faraó"


16ª Semana do Tempo Comum | Segunda-feira
Primeira Leitura (Êx 14,5-18)
Responsório Êx 15,1-2.3-4.5-6 (R. 1a)
Evangelho (Mt 12,38-42)

1.
O Senhor endureceu o coração do Faraó, rei do Egito, que foi no alcance dos filhos de Israel. Mas eles tinham saído debaixo da proteção duma poderosa mão. (Ex 14, 8) 

Deus endureceu o coração do Faraó e o rei o do Egito perseverou em sua estupidez até que foi precipitado nos abismos, junto de seus carros e cavalheiros. Algo semelhante parece estar acontecendo nesta era: a estupidez dos mundanos e hereges - sobretudo aqueles hereges que parasitam as estruturas eclesiais - é tamanha, sua pulsão por autodestruição tão intensa, não há outro caminho no horizonte ocidental se não o caos, o abismo, a destruição criativa.

2. 
Os habitantes de Nínive se levantarão no dia do juízo contra esta geração, e a condenarão, porque fizeram penitência a pregação de Jonas. Ora aqui está quem é maior que Jonas. A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo contra esta geração e a condenará, porque veio dos confins a terra a ouvir a sabedoria de Salomão. Ora aqui está quem é mais do que Salomão. (Mt 12,41-42)

Existe uma doença intelectual chamada cronocentrismo: a ilusão de que o tempo em que vive é o centro da história e que, por nascer numa época particular, você está apto a julgar o passado. Esse tipo de patologia é comum tanto dentro quanto fora da Igreja, com grande frequência se emitem julgamentos e condenações acerca do passado [ou pedidos de desculpas pelos supostos erros do mesmo]. Mas, e se ao invés de nós julgarmos o passado, o mesmo vier a nos julgar? O que Sócrates pensaria dos rumos desta civilização? São Pedro estaria contente com o atual pontífice? Seus ancestrais aprovariam o tipo de vida que está levando? O trecho do Evangelho é particularmente oportuno a esta geração má e adúltera, pois nos tira da posição de juízes e nos coloca no banco dos réus. Seremos capazes de justificar nossa conduta ante os antigos? E se o juízo do passado nos assusta, tanto mais devemos temer o juízo de Deus. Kyrie eleison!

sábado, 15 de julho de 2023

Estruturas Labirínticas

A (Besta) consegue que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, sejam marcados na sua mão direita, ou na sua fronte, e que ninguém possa comprar ou vender, exceto aquele que tenha o sinal ou o nome da besta ou o número de seu nome. (Ap 13, 16-17)

A maioria dos meus irmãos de fé tem insistido em questões relacionadas a unidade e a ordem; eu, por outro lado estou obcecado com a ideia do caos e o paradigma da fragmentação. Sem dúvida alguma certa espécie de caos é consequência imediata das ideologias liberais e, a antiga Cristandade - onde toda a sociedade civil era ordenada a Cristo - é preferível a qualquer outro modelo; naquele tempo, havia uma profunda união entre Igreja e Estado, de forma a tentar iluminar as realidades temporais, mas esse tempo acabou: as estruturas de poder estão intrinsicamente corrompidas - incluso os altos postos da hierarquia eclesial - , a oficialidade está sob o céu de Satã, qualquer medida de centralização e ordem significa dar mais poder ao inferno, entregar aos endemoniados novas formas de controle sobre nossas vidas. O controle exige ordem, unidade e certa simplificação. Ao contrário estruturas complexas, caóticas e fragmentadas - com certo sabor feudal - tornam o controle improvável. Como podem controlar aquilo que não conseguem compreender? Como podem fazer valer sua vontade iníqua se não tem meios de ação para realizá-la?

Elevar a complexidade social, acelerar a fragmentação e alimentar uma cultura underground, em suma construir estruturas labirínticas. Certo é que há nessas estruturas algum perigo: mal intencionados, golpistas -  o Minotauro vaga pelos corredores!  Sem o fio de Ariadne acabaremos por perecer - . Contudo, não é preferível enfrentar tais desafios a favorecer a centralização e a concentração do poder que acabará nos levando ao inferno? Pois bem sabemos que a oficialidade está predestinada ao Anti-Cristo.



Poderemos nós usar o bitcoin para escapar do controle da Besta? O descentralização da blockchain parece uma manifestação da sincronicidade de Jung, uma imagem providencial daquilo que precisamos construir. E aqueles que construíram o labirinto poderão se orientar dentro dele, como Dédalo, desde que não alimentem o orgulho e a vaidade de Ícaro.

Gostaria de citar um trecho de Neuromancer, onde está presente a descrição da Vila Strayligth que - tal qual o Labirinto e o Bitcoin - serve para ilustrar o paradigma estético-filosófico que proponho:

— A Villa Straylight — disse uma coisa adornada com pedras preciosas que se estava sobre o pedestal — é um corpo que cresceu sobre si mesmo, uma fantasia gótica. Cada um dos lugares de Straylight é, de algum modo, secreto; existe uma infindável série de câmaras ligadas por passagens e escadas em caracol, que se desenvolvem como intestinos; o olhar fica sempre enredado em curvas estreitas e cheio de telas ornamentadas e de quartos desertos...

Se, contudo, meus argumentos anteriores não foram capazes de convencê-lo, caro leitor, devo eu recorrer a minha cartada final. Não há dúvidas que um mundo complexo, fragmentado e misterioso, repleto de estruturas labirínticas tal como dungeons de um rpg japonês seria tanto mais divertido que a simplicidade monótona da aldeia, não?

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Cosmopolitismo Bíblico


14ª Semana do Tempo Comum | Sexta-feira
Primeira Leitura (Gn 46,1-7.28-30)
Responsório Sl 36(37),3-4.18-19.27-28.39-40 (R. 39a)
Evangelho (Mt 10,16-23)

Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem. (Mt 10, 23)

Circunstâncias históricas diversas acabaram por forjar uma aliança entre catolicismo e nacionalismo em um passado próximo. Algumas décadas depois, mesmo após o colapso dos regimes nacionalistas, não poucos católicos procuram recorrer - de forma nostálgica - as soluções do passado. Muitos argumentam que é preciso recuperar o apego a terra, alimentam um ideário provinciano e encaram a tecnologia com um temor caipira. O cosmopolitismo seria uma praga, o estrangeiro, algo a ser temido. Hoje lemos na escritura que Deus abençoa a viagem de Jacó/Israel ao Egito. Por cerca de quatrocentos anos viveriam os judeus no Egito até que Deus os levasse ao deserto com Moisés e, depois de 40 anos de viagem, os conduzisse a Canaã. Nosso Senhor Jesus Cristo diz aos apóstolos (e a ordem ecoa também para nós): se vos perseguirem em uma cidade, fugi para outra!; não existe, pois, qualquer preceito espiritual que nos aprisione a terra que nascemos, antes é uma escolha baseada em critérios pragmáticos. Se o lugar não está bom, se há fome, guerra e perseguição, podemos muito bem armar nossas tendas em outro lugar. E isso não vale apenas para a nação, vale para a cidade, o emprego, a paróquia, a namorada (se não casou ainda está livre para trocar), se as coisas não estão boas, não constitui pecado algum migrar, procurar outros horizontes, você não tem um juramento solene feito sob o altar que te prenda a uma fidelidade eterna a isto, tem?

quarta-feira, 5 de julho de 2023

O signo da bastardia e o caráter bestial das feras


13ª Semana do Tempo Comum | Quarta-feira
Primeira Leitura (Gn 21,5.8-21)
Responsório Sl 33(34),7-8.10-11.12-13 (R. 7a)
Evangelho (Mt 8,28-34)

1.

Sara, porém, tendo visto o filho de Agar Egípcia, que escarnecia de seu filho Isaac, disse para Abraão: expulsa esta escrava e seu filho, porque o filho da escrava não há-de ser herdeiro com meu filho Isaac. Este falar foi duro para Abraão por causa de seu filho (Ismael). Deus, porém, disse-lhe: não te pareça áspero tratar assim o menino e a tua escrava. Atende Sara em tudo o que ela te disser, porque de Isaac sairá a descendência que há-de ter o teu nome. (Gn 21, 9-12)

Apesar de todas as piruetas hermenêuticas dos teólogos do inferno, fica claro a qualquer leitor honesto que uma coisa a Bíblia não é: igualitária. A justiça implica distinção; e uma das distinções mais fundamentais é aquela entre o filho legítimo, o herdeiro, e o bastardo. Ainda que seja inocente, sob o bastardo recai a maldição do pecado de seus pais, ele jamais poderá gozar dos mesmos privilégios do herdeiro, é questão de justiça. Tal ensinamento soava tão duro antes como hoje e perturbou o coração de Abraão, contudo foi confirmado pelo próprio Deus: ainda que Ismael tenha recebido algum tipo de benção, a aliança foi feita com Isaac, o filho de Sara, o filho legítimo de Abraão foi aquele que herdou a promessa. Tal fato deveria tocar a consciência dos fornicadores que, por puro egoísmo, por cinco minutos de prazer, amaldiçoam parte de sua descendência com o signo da bastardia, privando-os de uma família normal.

2. A maioria de nós vive nas cidades; o contato que temos com animais, em geral, se dá com cães e gatos. Geralmente dóceis, frutos de seleção artificial - ainda que ultimamente tenham crescido os vira-latas, os mesmos costumam prover de raças já trabalhadas - com vistas a selecionar características que nos são agradáveis. O próprio entretenimento nos ajuda a romantizar as criaturas: temos ursos de pelúcia e o lobo não nos parece assim tão mau. Não que isso seja particularmente errado, mas nos priva de certo contato com um aspecto importante da realidade, o caráter bestial das feras. Bem ou mau ele costuma aparecer no pitbull, quase como uma falha da matrix, o último testemunho de uma realidade ancestral. Se é difícil para nós imaginar a ferocidade natural, que se dirá da ferocidade demoníaca. Sim, os demônios são capazes de tomar o corpo de animais - como mostra o Evangelho de hoje: em que expulsos dos gadarenos, eles tomam uma manada de porcos - ! Quão aterrorizante deve ser uma besta sob o domínio do inferno? Eis algo que - hoje - para nós é inimaginável.