Antes de designar a estranha filosofia de Nick Land, o termo aceleracionismo fora originalmente utilizado no livro – muito citado mas pouco lido – The Lord of Ligth de Roger Zelazny, nesse universo as elites se fizeram adorar como deuses da mitologia hindu ao mesmo tempo em que relegam o resto da humanidade a um absoluto estado de servidão, privando-a das maravilhas da técnica. Eis que um destes “deuses” se revolta contra essa estrutura de poder, assumindo a identidade de Buda, e fomentando entre os mortais o avanço tecnológico, de forma a abalar o poder das elites; eis aí o movimento aceleracionista.
A filosofia de Land e seus desdobramentos na neoreação, contudo, tem pouco que ver com uma libertação cármica (seja lá o que isso isso signifique), podemos antes associá-la ao horror cósmico de H .P. Lovecraft. Naquele que é seu conto mais memorável, temos um estranho culto que busca de alguma forma acordar entidades antigas cuja mera visão é capaz de levar à loucura aquelas mentes mais sensíveis; eis o culto de Cthulhu. A ideia é libertar o capitalismo de suas amarras, libertar a besta e deixa-la brincar, sem qualquer objetivo nobre por trás senão o prazer da loucura.
A coisa mais misericordiosa do mundo, creio eu, é a incapacidade da mente humana em correlacionar todo o seu conteúdo. Vivemos numa plácida ilha de ignorância em meio a mares negros de infinitude, e não fomos feitos para viajarmos longe. As ciências, cada qual puxando em sua própria direção, até agora nos causaram pouco mal; mas um dia a montagem das peças do conhecimento desconexo abrirá tão terríveis visões da realidade, e de nossa precária posição nela, que enlouqueceremos com a revelação ou fugiremos da luz fatal, para a paz e a segurança de uma nova idade das trevas.
Voltando ao livro de Zelazny, em meio a aceleração tecnologia e a guerra aos deuses promovida por Buda, temos um personagem cristão que procura aproveitar-se disso para iniciar uma nova cruzada, colocar fim a essa idolatria blasfema e reestabelecer no mundo a verdadeira religião. Niriti, o negro. O fato desse herói cristão ser designado pelo nome de um demônio hindu apresenta uma cara simbólica profunda semelhante ao final original do livro Eu Sou a Lenda (adaptado no filme The Last Man on Earth de 1964), no mundo da Revolução, as forças do bem do belo e verdadeiro são jogadas para a escuridão e a marginalidade e são vistos sob o signo da maldição. Se você não está preparado para isso, se tem a necessidade de ser visto como o bom menino, se não está pronto para lidar com o escândalo da cruz, não está pronto para essa luta.
Onde quero eu chegar com essa história?
Recentemente temos sido surpreendidos com notícias animadoras acerca do avanço da tecnologia no ramo da inteligência artificial. Tal avanço vem junto das lamentações dos defensores do status quo, dos apologetas da elite, dos filhos da revolução que pretendem de alguma maneira limitar o avanço da técnica por meio de regulações. Há muitos irmãos de fé que caem nesse discurso. Eu vos convido a tomar o caminho oposto.
De fato, o avanço tecnológico vai acabar com a sociedade como conhecemos, contudo, tal sociedade não é a cristandade medieval, mas a o pasto dos demônios da revolução francesa. Não que devamos tomar parte no culto de Cthulhu, nas maquinações para libertar as forças profundas do technocapitalismo, porém não é como se não pudéssemos nos aproveitar da aceleração como fizera Niriti. Não temam as novidades da técnica, caríssimos irmãos, mas aprendam a utiliza-las, sobretudo na janela de oportunidade nascida nesta guerra entre o Culto e Revolução. Mais do que conservar uma sociedade obsoleta ou garantir um arranjo politico institucional, temos de salvar almas.


