Se há algo que torna o capitalismo interessante é o múltiplo, a variedade de empresas, lojas, produtos e serviços que concorrem entre si ao modo da mitologia darwiniana afim de sobreviver, dando ao consumidor uma ampla margem de escolhas. Os marxistas falam do capitalismo como um monstro indestrutível, os liberais louvam sua forma, os primitivistas temem sua complexidade, é mais fácil imaginar o fim do mundo que o fim do capitalismo, eis pois a máquina de moto-pérpetuo, a lâmpada que nunca apaga, o sonho dos cientistas de tempos idos, quem dera assim fosse. Não quero apavorar ninguém, mas a coisa não está funcionando muito bem...
Sob a guia do Detetive Kun Kun, passemos a investigar o assunto. De algum modo toda a miríade de empresas que vemos por aí não são senão máscaras de grandes corporações internacionais, assim como toda a variedade de produtos disponíveis no supermercado são praticamente feitos dos mesmos ingredientes - milho e soja - ainda que criptografados segundo os arcanos da indústria alimentícia. Ok, talvez isso seja um pouco difícil de se averiguar, então usemos um pouco de empirismo: abra a app store no seu celular e ante uma miríade de produtos experimente a frustação ao notar que a maioria são absolutamente inúteis, talvez uma dezena traga funções realmente interessantes e todo o resto não é senão lixo colorido. Agora, saia um pouco do quarto, visite as lojas de sua cidade e seja tomado pelo tédio ao observar que vendem praticamente os mesmos produtos. Para onde foi todo aquele vigor e inventividade do mercado que nos foi prometido? Se desvaneceu como uma miragem no deserto.
Quem é, pois, o vilão que ameaça nossa economia? Quem é aquele que frustra o fantástico sonho do mercado onde poderemos obter desde bonecas amaldiçoadas a tapetes voadores? O Estado - dirão os libertários - ! Sim, esse velho tirano sufoca nossa liberdade e atrasa o desenvolvimento tecnológico, tornado o capitalismo refém de um arranjo institucional obsoleto, soltem o Leão! Em parte os rapazes estão certos, mas há algo que ignoram. Atentem à máquina - nos diz o pequeno Kun Kun - e notarão o combustível que alimenta o moto-perpétuo! De fato, há um líquido viscoso e colorido que lubrifica o equipamento e o mantém funcionando, o combustível do capitalismo, o substrato da multiplicidade. Que é isto? É a imaginação!!!
O mundo real não é outra coisa senão um reflexo distorcido do hiperurânio, o reino do ideal, o mundo das ideias de Platão! Nada está na realidade sem antes se manifestar na literatura, antes de algo ser realizado ele deve ser pensado, imaginado! O sonho capitalista depende que a névoa produzida pelos artistas inspire a ganância dos empreendedores. Se não há imaginação, não há criação, inovação, o motor do capitalismo é obsediado, o mundo é invadido pelo tédio dos oligopólios, a multiplicidade se torna uma mentira. Se quisermos salvar o capitalismo, precisamos de alguma forma reencontrar o caminho para o país das maravilhas!



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