
Imagine, pois, que você consiga dar expressão a todas as belas ideias que trafegam por sua mente, que escreva um denso livro de 800 páginas em linguagem escolástica, resolvendo a maior parte dos problemas da era contemporânea. Quantos leitores teria nesta selva tropical? E destes leitores quantos estariam capacitados a compreendê-lo? Talvez, então, devesse formá-los, preparar um ambicioso projeto educacional online, ministrando mais de 3400 aulas, durante um período de cinco ou mais anos. Isso é coisa para intelectuais sexagenários, até a você adquirir a erudição e a maturidade para um empreendimento desse nível, vai ter de encontrar outra forma de pagar o feijão. E ainda assim, a maior parte de seu círculo de amigos não está afim de escutar sequer seus áudios de 15 minutos palestrinha no zap, quantos o acompanhariam por anos a fio em longas aulas online?
Uma outra opção seria a ocupação de espaços, a audiência está cativa do Estado, então poderia quem sabe infiltrar-se nas escolas e universidades. Mas para isso você precisaria expor sua alma a tal grau de corrupção e fingimento num esquema de infiltração que pode durar até a sua morte, ou entrar numa luta suicida contra uma grande instituição decrépita que vai te expurgar; sem falar que vai ter de conviver com pessoas de ideologia infernal ou mini marginais, e lá se vai a quietude da bolha. E mais: se você depende financeiramente disso, bem sinto muito. É mais fácil ser absorvido e derrotado pelo meio, devorado pelo Leviatã do que tomá-lo de assalto.
Você também poderia tentar algo através da Igreja, mas a situação da igreja institucional de Francisco e Tucho que quer obrigar aos padres a abençoar b010l4as não está muito melhor; além de quê: creio que não se deve confundir vocação intelectual com vocação sacerdotal e missionária.
Sendo assim, se você quer exercer o mínimo de caridade intelectual para com o afegão médio, você tem de fazer isso de maneiras não institucionais. A mim, me parece que o caminho é desenvolver uma linguagem capaz de comunicar a verdade de forma breve e impactante, a sabedoria em pílulas. Onde o sujeito lê um tweet seu, ou escuta uma frase na fila do mercado e: caramba! Ele vê a luz! E isso não para salvar o país - que não tem salvação - mas para salvar sua pobre alma moribunda que, por algum motivo misterioso, recebeu do Espírito o dom da Sabedoria e/ou da Inteligência e não pode ficar indiferente ao Lázaro mendigando instrução a porta da sua bolha. Você não precisa se matar por ele, mas se o ignorar, vai terminar no mesmo lugar do rico epulão. Condense a sabedoria em pílulas, jogue umas três por cima do muro e sai correndo. Que são os Analectos de Confúcio senão isso?

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