Deus Todo Poderoso, que nos criou à Vossa imagem e nos indicou o caminho do bem, do verdadeiro e do belo, especialmente na pessoa divina de Vosso Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, permiti-nos que, pela intercessão de Santo Isidoro, bispo e doutor, durante nossas navegações pela Internet, dirijamos nossas mãos e nossos olhos apenas àquelas coisas que Vos sejam aprazíveis e que tratemos com caridade e paciência todas aquelas almas que encontrarmos pelo caminho. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

sábado, 25 de outubro de 2025

A Palavra Certa

Entre os japoneses e chineses existe o costume de escrever orações em um papel e usá-los como amuletos e talismãs, a isto se chama ofuda. Também escreviam em objetos e casas com a finalidade impedir a entrada ou saída de demônios. No catolicismo há o sacramental do giz, onde o pai de família escreve no pórtico da casa as iniciais dos reis magos; particularmente interessante também é uma velha história segundo a qual durante uma investigação inquisitorial interrogaram certas bruxas, estas haviam amaldiçoado uma cidade inteira mas não conseguiam atingir um mosteiro: algo protegia o lugar. Quando foram verificar o local, pintado na parede estava aquilo que viria a ser a oração da medalha de São Bento. Frei Galvão escrevia orações em papeizinhos pequenos e dava para as pessoas tomarem como fossem pílulas, tendo através destas realizado uma série de milagres. Não só a oração vocal, também a palavra escrita tem poder.

Se a palavra tem poder, a corrupção da linguagem também se mostra extremamente perigo.  O exorcista Gabriele Amorth queixava-se que, após as reformas conciliares, os exorcismos deveriam ser recitados em vernáculo. Não funcionava, – segundo ele, alguns demônios só podem ser expelidos latim. Um dos muitos problemas do novo rito da missa são as palavras, não apenas sua tradução para o vernáculo, há textos objetivamente ruins que atentam contra o sensus fidei, o que foi, aliás, profetizado em La Sallete

Do sagrado passemos ao profano, todo esse mundo cibernético que o leitor tem diante dos olhos não são outa coisa senão códigos, palavra escrita. Se têm o hábito de brincar com a Inteligência Artificial deve ter notado que estamos diante de um jogo de palavras: é preciso descobrir a palavras certa no momento certo para burlar as restrições dos programadores e extrair da criatura exatamente o que se quer. Ante o avanço da censura na internet, nada mais fundamental que o domínio da linguagem. 

Língua, religião e alta cultura, insistia o filósofo Olavo de Carvalho. O velho tinha razão.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Polícia de Turing

No mundo de Gibson existe a Polícia de Turing. O conceito é mais interessante que os os personagens que a representam - um bando de npc's facilmente obliterados por Wintermute - uma força policial internacional cujo objetivo é impedir que determinadas inteligências artificiais se tornem "inteligentes demais".

Konkin III ecoa a tradição libertária quando coloca o Estado como inimigo da inovação. Não fosse por "nosso inimigo, o Estado" já estaríamos cultivando jardins na Lua. Não apenas o Estado, mas também as grandes corporações aparecem na crítica de Konkin III, como uma macaqueação do mesmo estado. Sem entrar em delírios agoristas, fato é que hoje o Estado e as grandes corporações ocidentais atuam como a Polícia de Turing. Longe de perseguir com entusiasmo a inovação, antes pretendem matá-la, só avançando como que forçados por seus concorrentes orientais ou por algum deslumbrado - fora do cativeiro do sistema - que cometera o "pecado" de descobrir o futuro. Perseguem o pássaro não para comtemplar sua beleza, mas para tentar aprisioná-lo dentro de uma gaiola e sequer querem ouvi-lo cantar, mas simplesmente impedir que outros saibam de sua existência.

sábado, 29 de março de 2025

Aceleracionismo, o culto de Cthulhu e a Cruzada Cibernética

Antes de designar a estranha filosofia de Nick Land, o termo aceleracionismo fora originalmente utilizado no livro – muito citado mas pouco lido – The Lord of Ligth de Roger Zelazny, nesse universo as elites se fizeram adorar como deuses da mitologia hindu ao mesmo tempo em que relegam o resto da humanidade a um absoluto estado de servidão, privando-a das maravilhas da técnica. Eis que um destes “deuses” se revolta contra essa estrutura de poder, assumindo a identidade de Buda, e fomentando entre os mortais o avanço tecnológico, de forma a abalar o poder das elites; eis aí o movimento aceleracionista.

A filosofia de Land e seus desdobramentos na neoreação, contudo, tem pouco que ver com uma libertação cármica (seja lá o que isso isso signifique), podemos antes associá-la ao horror cósmico de H .P. Lovecraft. Naquele que é seu conto mais memorável, temos um estranho culto que busca de alguma forma acordar entidades antigas cuja mera visão é capaz de levar à loucura aquelas mentes mais sensíveis; eis o culto de Cthulhu. A ideia é libertar o capitalismo de suas amarras, libertar a besta e deixa-la brincar, sem qualquer objetivo nobre por trás senão o prazer da loucura.

A coisa mais misericordiosa do mundo, creio eu, é a incapacidade da mente humana em correlacionar todo o seu conteúdo. Vivemos numa plácida ilha de ignorância em meio a mares negros de infinitude, e não fomos feitos para viajarmos longe. As ciências, cada qual puxando em sua própria direção, até agora nos causaram pouco mal; mas um dia a montagem das peças do conhecimento desconexo abrirá tão terríveis visões da realidade, e de nossa precária posição nela, que enlouqueceremos com a revelação ou fugiremos da luz fatal, para a paz e a segurança de uma nova idade das trevas.

Voltando ao livro de Zelazny, em meio a aceleração tecnologia e a guerra aos deuses promovida por Buda, temos um personagem cristão que procura aproveitar-se disso para iniciar uma nova cruzada, colocar fim a essa idolatria blasfema e reestabelecer no mundo a verdadeira religião. Niriti, o negro. O fato desse herói cristão ser designado pelo nome de um demônio hindu apresenta uma cara simbólica profunda semelhante ao final original do livro Eu Sou a Lenda (adaptado no filme The Last Man on Earth de 1964), no mundo da Revolução, as forças do bem do belo e verdadeiro são jogadas para a escuridão e a marginalidade e são vistos sob o signo da maldição. Se você não está preparado para isso, se tem a necessidade de ser visto como o bom menino, se não está pronto para lidar com o escândalo da cruz, não está pronto para essa luta. 


Onde quero eu chegar com essa história?

Recentemente temos sido surpreendidos com notícias animadoras acerca do avanço da tecnologia no ramo da inteligência artificial. Tal avanço vem junto das lamentações dos defensores do status quo, dos apologetas da elite, dos filhos da revolução que pretendem de alguma maneira limitar o avanço da técnica por meio de regulações. Há muitos irmãos de fé que caem nesse discurso. Eu vos convido a tomar o caminho oposto.

De fato, o avanço tecnológico vai acabar com a sociedade como conhecemos, contudo, tal sociedade não é a cristandade medieval, mas a o pasto dos demônios da revolução francesa. Não que devamos tomar parte no culto de Cthulhu, nas maquinações para libertar as forças profundas do technocapitalismo, porém não é como se não pudéssemos nos aproveitar da aceleração como fizera Niriti.  Não temam as novidades da técnica, caríssimos irmãos, mas aprendam a utiliza-las, sobretudo na janela de oportunidade nascida nesta guerra entre o Culto e Revolução. Mais do que conservar uma sociedade obsoleta ou garantir um arranjo politico institucional, temos de salvar almas. 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Golden Card e o Estado Neocameral


Vivem os países do primeiro mundo certa histeria anti-imigrantes, histeria esta que vem a contagiar muitos intelectuais de mente fraca no terceiro mundo. A questão imigratória é uma chatice impar com a qual não quero perder meu tempo, mas há encontrei algo divertido e é sobre isso que pretendo tratar.

Ao mesmo tempo em que põe para fora do país os imigrantes ilegais, Donald Trump idealizou algo que chamou golden card, uma forma de vender a cidadania americana pela módica quantia de cinco milhões de dólares.  Além de encontrar uma forma fácil de se fazer dinheiro, isso soa quase como uma blasfêmia contra a ideia de sangue e solo – pretérito dogma teopolítco que alicerça a ideia de nação – tal como fora ofensivo aos apologetas do ancien régime a venda de títulos nobiliárquicos. Tal medida já havia sido prefigurada na literatura cyberpunk:

Bem-vindos!

É meu prazer receber todas as pessoas de classe que visitam Hong Kong. Seja seriamente, a negócios, ou para lazer e diversão, sinta-se inteiramente à vontade neste humilde ambiente. Se algum aspecto dele não estiver profundamente em harmonia, traga-o por gentileza ao meu conhecimento e me esforçarei para garantir a sua satisfação.

Nós, da Grande Hong Kong, temos muito orgulho do crescimento extravagante de nossa minúscula nação. Aqueles que viam nossa ilha como um petisco para o prazer da China Vermelha ficaram de queixo caído de tão surpresos ao ver tantas grandes pretensas potências da velha-guarda recuarem assustadas diante de nossos grandes saltos e de nosso domínio avançado da linguagem livre da realização pessoal high-tech e do aprimoramento de todos os povos. Os potenciais de todas as raças étnicas e antropologias para se fundir sob a bandeira dos Três Princípios, a saber,

1. Informação, informação, informação!
2. Comércio totalmente justo!
3. Ecologia estrita!
                                                        não têm igual na história das lutas econômicas.

Quem desdenharia de assinar sob esta bandeira tremulante? Se você ainda não obteve sua cidadania de Hong Kong, inscreva-se para obter um passaporte agora mesmo! Neste mês, a taxa normal de HK$ 100,00 será gentilmente negligenciada. Preencha um cupom (abaixo) agora. Se não encontrar cupons, disque 1-800-HONG KONG instantaneamente para pedir cidadania com a ajuda de nossos velhos operadores.

A Grande Hong Kong do Sr. Lee é uma entidade quase nacional, soberana, particular e inteiramente extraterritorial, não reconhecida por nenhuma outra nacionalidade e de forma alguma afiliada à antiga Colônia Britânica de Hong Kong, que faz parte da República Popular da China. A República Popular da China não admite nem aceita responsabilidade pelo Sr. Lee, pelo Governo da Grande Hong Kong ou por seus cidadãos ou por violação da lei local, ferimentos pessoais ou danos à propriedade que ocorram nos territórios, prédios, municipalidades, instituições ou terrenos possuídos, ocupados ou reclamados pela Grande Hong Kong do Sr. Lee.

Junte-se a nós instantaneamente!
Seu parceiro de empreendimento,
Sr. Lee

Talvez não esteja suficientemente claro: o golden card significa um abandono no velho conceito grego de pátria, da ideia de fundamentar o estado nação em uma mitologia ancestral, sem contudo abraçar o cosmopolitismo socialista da aldeia global. O Estado abandona pretensões de sacralidade, ele não está mais acima do mercado, a hiperstição neocameral se torna real. 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Gosto pelas coisas dos homens



6ª Semana do Tempo Comum | Quinta-feira
Primeira Leitura (Gn 9,1-13)
Responsório Sl 101(102),16-18.19-21.29 e 22-23 (R. 20b)
Evangelho (Mc 8,27-33)

Mas Jesus, voltando-se e olhando para seus discípulos, ameaçou Pedro, dizendo: Retira-te diante de mim, Satanás, que não tens gosto pelas coisas de Deus, mas sim pelas dos homens. (Mc 8, 33)

A repreensão de Nosso Senhor Jesus Cristo a São Pedro ecoa por mais de dois milênios sob a figura dos papas humanistas. Como Pedro, estes perdem o gosto pelas coisas divinas e se deixam contaminar pelo mundo, passam a ter demasiado apreço pelas coisas dos homens. Como resultado tornam-se inimigos, Satanás, emporcalhando a Igreja com ecumenismo, socialismo e politicagem. 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

O Demônio Legião e a Cultura de Massas


4ª Semana do Tempo Comum | Segunda-feira
Primeira Leitura (Hb 11,32-40)
Responsório Sl 30(31),20.21.22.23.24 (R. 25)
Evangelho (Mc 5,1-20)

Gustave Le Bon descrevera vigorosamente em sua Psicologia das Multidões os efeitos deletérios desses gigantescos aglomerados sobre a psicologia do indivíduo. A cultura de massas gerou o nazismo e o comunismo e uma série de outras aberrações. No momento em que escrevo esse texto, o país fora surpreendido por um sujeito empalado em uma briga de torcidas organizadas, mais uma barbaridade nascida dentro desse formigueiro humano que é a multidão.  É como se a cultura de massas fosse dirigida por aquele velho diabo: Legião -  com o qual conviviam os habitantes de Gérasa - e o estilhaçar deste paradigma cultural seja uma preciosa oportunidade para mandar esse desgraçado de volta aos porcos, donde nunca devia ter saído.